quinta-feira, 18 de julho de 2013

anúncio para a morte


Paixão (2012), Brian de Palma.

Magistral plano, este (v. melhor aqui): o anúncio publicitário que, acima de Christine (como uma nuvem premonitória), e que, jogando com a altura dos edifícios em seu redor, ensombra a sua pequena silhueta (a pequenez dos homens ante a morte), prenuncia - ou, melhor dizendo, "anuncia", para isso se servindo dos suportes audio-visuais próprios da lógica televisiva e publicitária - o seu destino fatal. Ao que ajuda a disposição "angular" do enquadramento, que, afunilando Christine no vértice do ângulo agudo formado pelas "semi-rectas" traçadas pelas linhas inferiores dos dois edifícios, a inserem num espaço claustrofóbico, sem saída, como que um beco suis generis.

Na verdade, é o espectáculo ali anunciado que, mais à frente, será mostrado ao espectador em split screen paralelamente à cena do seu homicídio, servindo de álibi a Isabelle, que, alega ela em sua defesa, a ele (espectáculo) assistiu. Irresistível, por isso, convocar Hitchcock - referência tutorial, de resto, neste e noutros filmes de de Palma - para, recriando o título do seu filme Chamada para a morte (1954), falar, aqui, num anúncio para a morte, nem de propósito figurado de modo perversamente gracioso (o par executando o bailado Prélude à l’aprés-midi d’un faune, de Debussy), como que sugerindo o "crime perfeito" como obra de arte, como "obra-prima" mesmo. Ou, ainda, se quisermos, a encenação de um crime e respectivo álibi como performance artística.

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